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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Tomei uma criança pela mão...


Tomei uma criança pela mão, a fim de andarmos juntos parte do caminho. Eu deveria levá-la ao Pai. A tarefa me amedrontou, tão terrível me pareceu a responsabilidade. Falei, então, com a criança apenas sobre o Pai. Pintei a severidade do Pai caso ela o desagradasse. Andamos sob as árvores altas e eu disse que o Pai tinha poder para derrubá-las num minuto com seus raios possantes. Andamos ao sol, e lhe falei sobre a grandeza do Pai que fez o sol ardente, esplendoroso.
Ao cair da tarde, nos encontramos com o Pai. A criança se escondeu atrás de mim, tinha medo, não queria olhar para aquela face tão cheia de amor. Ela lembrou-se de minha descrição, não quis colocar sua mãozinha na mão do Pai. Fiquei entre a criança e o Pai. Refleti. Eu tinha sido tão conscienciosa, tão séria.
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Tomei uma criança pela mão. Eu deveria levá-la ao Pai. Senti-me esmagada pela multidão de coisas que deveria ensinar-lhe. Não nos demoramos, mas corremos todo o caminho. Num minuto comparávamos as folhas das árvores e no seguinte examinávamos o ninho de um pássaro.
Enquanto a criança me fazia perguntas a respeito, eu a empurrava para caçar borboleta. Se por acaso adormecia, eu a despertava, a fim de que não perdesse nada. Eu queria que ela visse. Falamos do Pai muitas vezes e rapidamente. Derramei em seus ouvidos todas as histórias que deveria saber, mas fomos em diversas ocasiões interrompidas pelo soprar do vento, do qual devíamos falar; pelo sair das estrelas, que tínhamos de estudar; pelo riacho murmurante, que precisávamos acompanhar até sua fonte. E então, ao cair do dia, encontramos o Pai. A criança o olhou de relance. O Pai estendeu-lhe a mão, mas ela não se interessou o bastante para tomá-la. Pontos febris queimavam em seu rosto, ela caiu exausta no chão e adormeceu. Eu estava de novo entre a criança e o Pai. Refleti. Eu lhe ensinara tantas, tantas coisas.
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Tomei uma criança pela mão para levá-la ao Pai. Meu coração estava cheio de gratidão pelo alegre privilégio. Andamos devagar. Moderei meus passos pelos dela. Falamos das coisas que a criança ia notando. Algumas vezes era um dos pássaros do Pai: observamos quando construía seu ninho e vimos os ovos que nele depositava. Conversamos depois sobre os cuidados que ele tinha com os filhotes. Outras vezes apanhávamos as flores do Pai e acariciávamos as pétalas macias, apreciando suas lindas cores. Com freqüência contávamos uma para a outra essas histórias, repetidamente. De tempo em tempo parávamos, encostando nas árvores do Pai e deixando que o ar feito por Ele refrescasse nosso rosto sem falar. E então, ao fim do dia, encontramos com o Pai. Os olhos da criança brilharam. Ela olhou com amor, confiança e alegria para a face do Pai, colocando sua mão na mão dele. Naquele momento fui esquecida. E me alegrei.

Do livro: Passando aos Filhos a Tocha da fé
                 
            Edvanil FonsecaRosa vermelha

Um comentário:

Patricia Galis disse...

Que lindo, fiquei até emocionada!

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